o medo de me achar bonita (e estar errada)
Sobre ser bonita.
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────── Este é um tópico que permeia a minha vida desde os primórdios da minha existência, e por isso me sinto na necessidade de escrever sobre. Não que eu vá chegar a alguma conclusão ou desenvolver qualquer tipo de conselho fazendo isso, mas apenas acho que devo. Preciso colocar isso pra fora.
Não sei quando aconteceu exatamente, mas acho que me toquei ainda na infância de que não era bonita. Não bonita de verdade. Claro que eu era pra minha avó, pra minha tia… mas não “bonita” do tipo que o mundo sabe que é. Aquela menina que, quando entra em um lugar, as pessoas simplesmente sabem. Sem precisar falar. Sem precisar se esforçar. Olha e pronto.
Eu não era isso, nunca fui isso e nem sou isso. Mas vivo na constante ânsia em ser isso.
Parece tão fácil ser bela. Me pergunto por que não tive essa sorte. Eu tinha chance, sabe? Tinha material, genética. Só não aconteceu. E agora tenho que conviver com esse peso, o de achar que falhei em nascer do jeito certo.
Enquanto olho para telas e vejo por toda parte feições magníficas e corpos inacreditáveis. Beleza, tudo o que eu sempre quis.
Lembro-me de uma menina chamada Carla — todos chamavam de Carlinha — que era do quinto ano quando eu estava no segundo do fundamental. Ela era muito popular. Inconscientemente, eu sabia que ela era bonita e sabia também que todo mundo achava isso.
E quando eu sofria bullying, e me chamavam de “morte”, de “orelhuda”, esquisita, eu pensava: “
Tudo bem. Quando eu estiver no quinto ano, vou ser bonita como ela.”
Mas não aconteceu.
Fui pro quinto, e ela estava no oitavo e ainda mais bonita. E eu continuei esperando que a beleza viesse, como um tipo de presente atrasado da vida.
Até que um dia, descendo as escadas da escola, ouvi dois meninos conversando:
— “A Carlinha era tão bonita, né.”
— “Era… mas agora tá ficando muito bocuda.”
Eu congelei. A Carlinha, com aquele lindo cabelo cacheado de pontas douradas, o rosto perfeito, estilo country impecável… Eles realmente estavam a criticar algo nela?!
Na época, fiquei perplexa. Hoje entendo que aquela conversa me ensinou algo: mesmo quem é considerada bonita pode ser diminuída a qualquer momento. Pode ser reduzida a uma crítica. Um detalhe. Um defeito. E aí comecei a pensar: se nem a Carlinha escapa, o que me resta?
Eu sempre acreditei que, se fosse bonita, seria mais amada, admirada, desejada, respeitada, protegida. Que a beleza traria conforto. Poder!
É óbvio para todos que a beleza traz inúmeros privilégios, e que por isso, todo mundo que ser bonito. Mas aos poucos fui percebendo que até as belas são expostas, comparadas, diminuídas. A beleza, então, nunca garante segurança?
Isso me confundiu.
E eu continuei esperando que a beleza chegasse com o tempo. Hoje me pergunto se não tenho algum tipo de desvio de imagem. Porque eu sei que melhorei. Me arrumo, me cuido, recebo elogios. Mas, por mais que as pessoas digam, eu não consigo acreditar.
Algo me trava.
Como se, ao me achar bonita, eu estivesse mentindo pra mim mesma. Sinto feito se fosse vergonhoso ter autoestima. Como se amar o que vejo fosse ser ridícula.
Tenho medo de me achar bonita… E ser feia.
Esse é o meu maior medo, de estar me iludindo, construindo uma imagem falsa na cabeça. De estar sendo observada por alguém que ri por dentro e pensa: “Ela se acha…”
É um medo estranho de me amar demais e ser desmentida pelo olhar do outro. Olho para aquelas garotas que só estão lá, de boas com a aparência que têm, e penso como deve ser confortável existir assim. Sem precisar negociar com o espelho, precisar torcer pra que a luz do banheiro esteja boa e tirar um milhão de fotos e considerar todas tenebrosas, colocar alguns efeitos pra aliviar…
Minha professora de Língua Portuguesa é outro exemplo. Quando ela entrou na escola pela primeira vez, todo mundo ficou chocado com a beleza dela. As meninas diziam que ela era angelical, elogiavam a pele, unhas, cabelo dela… Os meninos achavam ela maravilhosa, alguns chegaram até a flertar descaradamente com ela. Mas ainda assim, fui capaz de ouvir críticas: um garoto disse no ônibus que ela era “branca demais”, várias meninas falaram que ela era “sem bunda” e outras pessoas criticavam seu estilo.
Aí me pergunto: Nada é suficiente?
Parece que nunca é. E se até as bonitas são criticadas, é realmente impossível agradar a todos. Talvez essa seja a única conclusão: a beleza nunca é escudo completo. Sempre dá brecha. Parece-me algo relevante a se levar em conta na minha situação deprimente…
Não vou mentir, ainda tenho aquela esperança infantil do passado de que no futuro serei bonita. Não “arrumada”, não “bonitinha”, não “melhor que antes” — bonita de verdade.
Mas o que machuca e cansa é que tem gente que já é. Simplesmente já é. E eu tenho que lutar e esperar por algo que é dado de bandeja para outros.
Mas, de alguma forma estranha, ainda me move.
Ser bonita virou um objetivo.
Tóxico? Com certeza.
Mas algum objetivo.
Ser considerada bonita.
Ser bonita!
Exatamente como me sinto. Acho que ainda por sermos mulheres, esse desejo de se sentir e ser considerada bonita, sempre fica a pairar. Eu desisto, mas sempre como uma ponta de que um dia a beleza venha até a mim.
Também fico incrédula quando comentam mal de alguém, que se eu fosse parecida, estaria mais que satisfeita. Mas não é bem assim que funciona. Acho que a beleza é um complexo, nem sei se estou nele.
me identifiquei com cada linha escrita. desde muito nova tenho o desejo de ser bonita, e mesmo depois de alcançar isso aos olhos das pessoas e ser elogiada constantemente sinto que não é suficiente, ainda desejo em realmente ser bela como as outras garotas algum dia